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Cachoeira: Aventuras Do Interior - Capítulo 2

Casas Abandonadas

Muita gente cresceu assistindo ao desenho animado Caverna do Dragão. Para Liu, explorar uma casa abandonada era como entrar em um daqueles episódios cheios de mistério e aventura. Havia algo de mágico naquilo.

As casas que ele costumava visitar pertenciam a seus avós e tios, que haviam se mudado para a cidade e as deixado para trás. O tempo fez seu trabalho: os telhados abrigavam morcegos, o interior era tomado por teias de aranha e o mato invadia os cômodos. Mas nada disso o assustava—pelo contrário, era exatamente o que tornava tudo mais emocionante.

Liu e seus amigos transformavam essas incursões em desafios. Com uma baliadeira—como era chamado o estilingue por lá—tentavam acertar os morcegos e derrubar ninhos de marimbondos. Era uma missão arriscada. Às vezes, os insetos reagiam mais rápido do que esperavam, e alguém saía correndo com uma ferroada ardendo no rosto. Mas isso fazia parte da diversão.

As casas abandonadas tinham um ar sombrio. Algumas eram tão escuras por dentro que pareciam esconder segredos. O silêncio só era quebrado pelo som do vento atravessando frestas nas janelas quebradas ou pelo ruído inesperado de um animal se mexendo entre os escombros. No início, Liu entrava acompanhado—era mais seguro. Mas, com o tempo, aquilo se tornou fácil demais. Ele queria mais. Queria testar sua coragem de verdade.

Muitas vezes, ficou parado diante da porta de uma dessas casas, sentindo o frio do medo percorrer sua espinha. O instinto lhe dizia para voltar, mas a curiosidade o empurrava para dentro. Até que, um dia, decidiu não recuar.

Caminhou devagar, sentindo o chão ranger sob seus pés. O cheiro de madeira velha e poeira tomava o ar. De repente, um farfalhar acima de sua cabeça fez seu coração acelerar. Antes que pudesse reagir, uma revoada de morcegos explodiu do teto, rodopiando ao seu redor como um redemoinho negro. Por um segundo, ele se viu no meio de uma cena de Batman, quando o herói entra em sua Batcaverna.

O susto foi maior do que esperava. Sem pensar duas vezes, correu para fora, sentindo o sangue pulsar nos ouvidos. Mas, ao recuperar o fôlego, começou a rir sozinho. Seu grande desafio terminara em fuga.

Depois disso, nada mais parecia tão ameaçador. O medo deu lugar à curiosidade. Cada casa abandonada guardava uma história, e Liu se pegava imaginando como havia sido a vida daquelas pessoas antes de partirem. Algumas dessas casas não pertenciam à sua família, e saber sobre o passado delas se tornou uma missão.

À noite, sentado ao redor da fogueira ou na varanda, ele escutava as histórias dos mais velhos. Cada relato era um convite para uma nova aventura, um novo mistério a ser explorado. E, assim, sua busca por aventuras nunca terminava.

Leia o capítulo 3

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